Construtora avança com propostas na Colômbia, Costa Rica e Honduras
África permanece como a geografia em que a construtora Gabriel Couto (GC), de Famalicão, mais prospera, mas a América Latina surge no radar como a região das novas oportunidades. A estreia pode acontecer na Costa Rica, Honduras ou Colômbia, países em que conta entregar propostas até ao fim do ano. A construtora já está pré-qualificada para duas empreitadas rodoviárias.
A política de diversificação “pesquisa mercados recomendáveis e em crescimento, identificando projetos em que nos sentimos confortáveis e competitivos”, explica Carlos Couto, o representante da segunda geração que conduz a empresa familiar. A vocação da construtora reflete-se no equilíbrio na carteira atual, entre vias e infraestruturas (€73 milhões) e as empreitadas de construção civil (€65 milhões), com o segmento hoteleiro e industrial a ganhar um peso crescente. Em 2016, a faturação voltará a rondar os €100 milhões, consagrando a GC como uma das 15 maiores do sector.
A opção pela Colômbia, Honduras e Costa Rica decorre “do caudal de projetos em preparação” e da verificação de que se tratam “de mercados de concorrência saudável e menos agressiva” do que noutras geografias.
Foi na Zâmbia que a GC espetou a sua última lança no continente africano. Mas a concorrência chinesa e a instabilidade financeira e cambial retiram sedução à região. A adjudicação, por €15,4 milhões de um canal de drenagem de 2,6 km na capital Lusaca impulsionará a faturação no biénio 2016/17. A empreitada conta com financiamento da Millennium Challenge Corporation, uma agência americana muito ativa no continente e que, tal como a União Europeia (UE), é pouco recetiva à participação de construtoras chinesas nos concursos.
Antes da Zâmbia, já a GC se destacara por acrescentar a Suazilândia à lista de mercados africanos de expressão portuguesa. Na Suazilândia, a GC opera na rede rodoviária, apoiada na base moçambicana. Atualmente, tem em fase de conclusão uma estrada de 11 km e duas pontes exigentes, numa empreitada de €17,5 milhões, financiada pela UE. Senegal e Camarões são mercados sob escrutínio, nos quais a GC já foi a jogo em concursos públicos.
Se Moçambique é o principal mercado externo, rivalizando com a produção no mercado português, a operação angolana não faz jus ao passado da construtora no país. Até há dois anos, a intervenção era realizada através de uma companhia local, a Anteros, na qual tomara (2005) uma posição minoritária. Na hora de separar caminhos, o fundador optou por comprar a posição do sócio português. A GC investiu €7 milhões numa empresa de raiz transferindo 40 máquinas, entre camiões e equipamento, para o novo estaleiro. Mas a escassez de obras com financiamento ocidental e a hegemonia chinesa, beneficiando das sucessivas linhas do Governo de Pequim, impedem a rentabilização da operação. A GC admite até participar como subempreiteiro em obras adjudicadas a construtoras chinesas, que, nalguns casos, são forçadas a entregar 30% dos trabalhos a concorrentes.
Até em Moçambique o domínio chinês assusta. No último concurso (um hotel) a que se apresentou, “nos sete primeiros lugares ficaram construtoras chinesas”, conta Carlos Couto. Em Moçambique, com obras em carteira de €56 milhões, a GC sente-se “confiante e entusiasmada” com a operação que tem na mineira Vale e na ANE – Administração Nacional de Estradas as principais clientes. A sucursal no país combina obras nos corredores de Gaza e Nacala com projetos urbanos como a reabilitação da Avenida Julius Nyerere, em Maputo.
No mercado doméstico, Carlos Couto verifica “um dinamismo estimulante” no mercado privado. A GC está cada vez mais focada nos edifícios industriais, como a nova base fabril da metalúrgica A. Silva Matos ou a ampliação da unidade de bolachas da Vieira de Castro. Em 2016, os efeitos mais virtuosos na produção resultam da construção da fábrica do grupo indiano Sakthi, em Águeda (€12 milhões) e da infraestruturação do novo espaço da cadeia Ikea, em Loulé (€16,5 milhões).
Abílio Ferreira
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